sábado, 7 de novembro de 2009

impermanência

estar próximo de si e continuar ali,
apenas próximo.

não ir além, nem retroceder,
apenas ficar,
permanecer distante do que se é,
de onde se está.

de soslaio olhar para si,
sem interessar-se pelo o que vê,
apenas para conferir se a distância ainda é a mesma.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sarau Cooperifa - São Paulo (SP)

A segunda etapa do projeto Viapoesia traz a Santa Catarina uma mostra do que é o Sarau Cooperifa, um dos movimentos culturais mais importantes da periferia da metrópole paulistana, coordenado por Sergio Vaz. O Sarau, que acontece há sete anos, transformou um bar, na periferia da zona sul de São Paulo, em centro cultural, atrai um grande número de pessoas da comunidade para ouvir e falar poesia.

Na edição 2009 do projeto, a proposta é levar ao público catarinense dois espetáculos de poesia experimental contemporânea com forte viés na música.

Sexta, 24 de julho, 20hs
Local: Restaurante do SESC Tubarão
Rua Antônio Hülse, 411 - Dehon
Fone:(48) 3626-0146

Fica o convite a todos.

domingo, 19 de julho de 2009

não era diferente dos demais. ia à beira do Pai Feroz toda vez que a Lua mudava. Naquela noite ela estava cheia e os raios lunares caiam iluminando a escuridão.
abaixo dele, a água escura refletia a lua transbordante branca.
os olhos cheios de lágrimas, sua mente não podia compreender.

Naquela noite, ele nada via porque as nuvens, porque a lua. o sons dos insetos, dos ventos, das plantas, das coisas que rolam, das aves, da água do rio que escura batia trazendo um sem nome de seres, de dizeres, todas essas coisas atormentando a mente do homem que agora com medo chorava.
Nessa mesma noite, o vento uivou na floresta, farfalhando, zombeteando seus sons. silenciando os passos.

. . . . . .
. . . . . . . .estr.e.la.s. . . . . ..
. . . . .

voavam no céu.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Contratos para o livro O tabelionato

Atenção a todos os escribas do livro Tabelionato:

Preciso muito da ajuda e atenção de vocês: Os contratos de direitos autorais chegaram na minha mesa. Preciso urgente que todos se dirijam ao SESC e assinem as vias para que possamos receber os livros.

Um abraço e aguardo todos.


Marco.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

um pedido



de novo aqui
o coração num esmago
será que farás de novo?
vais e volta?
volta em cacos, sobras do doentio?

de novo aqui
a mente relembra cenas não vistas
monta, desmonta, remonta
mercúrio questiona e estimula
invariável inquietação do pensar

de novo lá
sozinho diante de si
seja o que for,
cuide de nós

terça-feira, 7 de abril de 2009

Dois prédios



Faz algum tempo, é verdade. Minha amiga costumava chamar-nos a atenção para a colocação do termo ‘rua sem saída’. Ela insistia na subjetividade do tema, defendendo o quão indevida é a expressão. “– A rua acaba; logo, tem fim”, falava gesticulando, como se estivesse liderando uma guerrilha.


Tem coerência a teoria da Marina. É passível de ser praticada. No fundo da rua Vilas Boas, é um fim de fato o que se vê. Ou um início, conforme o ponto de vista. No que se chama de término (ou começo), está localizado o prédio das senhoras, como é conhecido, por seu caráter matriarcal. Dele, os visitantes não chegam muito perto. Contentam-se em apreciá-lo com uma distância de respeito. Porque foi incômoda aquela figura, ou por ser tocante, de certa forma.


No terceiro andar ainda tem uma viga mal posicionada, bem ao lado da janela. O fiel senhor de 60 anos apenas enxerga o lado que não gostaria de ver. Sempre. Porque sempre são três horas da tarde. A abertura que dá para a sacada já lhe trouxe muitas alegrias. Bastava chamar uma vez, para o Alexandre fazer sua imagem aparecer ali. Era jovem, forte e sarcástico, como a vida também lhe foi.


Não foi por falta de aviso que a criança caiu de lá. São quase quatro metros até o solo. Mas os alertas eram em vão. Ela podia ter asas quando quisesse. Repetia como gente adulta. O susto foi grande, mas hoje é motivo de risada nos almoços de domingo. Não tivessem escolhido o primeiro andar para morar, o trauma seria maior. Agora, Joana só vai à varanda para acenar pro avô, que novamente se aproxima. São quatro horas da tarde; tem sombra ali.


O edifício é emoldurado por terrenos baldios projetados para quadras opostas. É grande, opaco; ora cinza, ora branco. E está naquela rua de Marina. A rua sem saída.


Tássia Búrigo

domingo, 29 de março de 2009

Ofegante, depois de alguns dias observando as águas, ele chega e conta sobre Pai-Feroz. Os tempos difíceis voltaram. Era o momento de se mudar e em movimento todos sentiam-se expostos a um perigo imediato.
A questão foi levada ao pai mestre que declarou não só importante a mudança, como também uma necessidade, um bem para todos.
Não foi a primeira daquelas famílias, daquele povo. Alguns avós e bisavós presenciaram a disciplina devastadora das lágrimas de Tubanharõ. Tempos de fartura, tempos difíceis. A morte vinha galopando pelos campos, enchendo de lágrimas os lares. Depois da mudança, a fome, um novo curso, uma nova vida.
aos homens cabia levar a lenha, as peles, os mais velhos e a comida que pudessem carregar. Às mulheres, as crianças. Aos mais velhos a fogueira e o alimento para o espírito. Às crianças, uma realidade sólida como rocha, áspera como tronco, fria como Pai-Feroz. A marcha de sol-a-sol, as manchas de morte intercalavam-se com flores de luz, luar azul, verde jardim, nascer curumim.
Do alto do morro, um passo antes de perder de vista o trajeto, o povo do Rio sentou-se e esperou não um ou dois dias, mas quarenta luas. Tubanharõ se mostrou e como águia, abriu suas asas. O Sol resplandia no corpo de prata enquanto, violento, desbravava as matas. E ao ver os homens seus filhos na ponta do desfiladeiro, parece que como um sorriso de prata foi dando, abrindo seus rios, cruzando sem medo a imensidão verde-mata que o céu refletido chovia.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Mergulho


O maiô era largo, cabia toda a bunda. De um magazine antigo, já falido, tinha um corte que não se acerta mais. O tecido grosso como pele de sereia. Gosto muito dessa roupa, como era quando nova. Cabendo dentro dele me encaixo em algo desaprendido. Minha roupa de mergulho. Gente espalhada em volta do edifício, sem nada melhor. Minha touca franzida protege a nuca do frio, do resto não. O prédio vai abaixo hoje. No terraço não tem água pra espelhar o céu, nenhuma lâmpada viva nos quartos. Ninguém pra nos segurar.

- Não tem vergonha dessa gente agora?
- Vergonha? Pode ficar com toda pra você.

Ela era mais velha do que parecia, com olhos tecidos de angustias. Uma roupa de banho cheia de manchas, démodé. No dia da implosão desfilou no parapeito, um passo atrás do vão, ainda segura e graciosa. Digo mesmo bonita. Não fiquei até o fim da confusão pra comprar jornais. Os de domingo são mais concorridos, e trago logo três. Saberei se algo acontecer no dia seguinte, nas novas do papel. Dos motivos em algum canto de página, do nome e das lesões.

- Se eu mergulhar e não voltar?
- Sentirei saudades.


Não sabia dela partida ao meio, que estava grávida. Nem notei nas roupas justas vestígios de alguém surgindo. Éramos vizinhas, mas sem amizade. Lembro seu olhar e de alguns cumprimentos, parecendo feliz. Guardo uma ocasião estranha, percebida num instantâneo, dias antes do mergulho. Uma dança solitária pela moldura da parede, pelos espaços roucos da casa. Espasmo íntimo que me censuro testemunhar, que conto nessas letras pra não lerem. Espelho escondido no escuro.

- Temos algo que nos preocupar juntos agora.
- Se vingar, teremos.


Ela não reclamava em ficar sozinha. Talvez pela euforia de eu voltar, pela liberdade temporária. Ou algo que não sei. Se despedia contente e pedia noticias diárias, me exigia presente da sua forma. Mantinha a casa limpa, nossa cama asseada. Quando voltava nada havia acontecido, nenhum equipamento estragado. Nenhuma fissura na vida, nenhuma cárie. As cercas-vivas bem cuidadas protegiam algum pátio cordial, de um sol equilibrista, um delicado exílio. Talvez nunca a tenha tocado de verdade, e não reclamava por nada mudar em eu estar ali.


- Às vezes, quando volta das viagens, você continua distante.
- Eu nunca volto.


Não sinto medo desse vão. Um passo e sepulto você em mim. Roupa de banho, um dia sem sol. O prédio apagado. Ninguém me viu da rua ou parou pra reparar. Nosso filho não teve os dias do prédio, a erosão diária e os músculos tensos. Os olhos abertos, gostos e pêlos crescidos. Uma vida pra desperdiçar. Meus pés inchados, as veias azuladas, a pele rachando numa espera. Aproveito o concreto caindo justo, os ferros empoeirados e a desordem marcada no lugar. Me visto de um sonho torcido, rosário de mortos. Desço sem lembrar de você, sem ligar o que gritam, desistindo no ar. Arrumo a touca.

terça-feira, 24 de março de 2009

microcontos: sobre seres escuros



fiz um vudu com meu sangue. vou colocá-lo no alto da estante. espero que ele caia.


ele diz que em minha pele preta o preto não combina.


sentado sobre mim com os cabelos compridos caindo no meu rosto, sua silhueta se parece com a de uma mulher. o pau pulsante dentro de mim não me deixa enganar.


vou sequestrá, estuprá-la com meus dedos, arrancar seus seios fartos e depois chupá-los. em seguida, vou afogá-la com seu sangue. espero que ela morra.


ele olha para mim com um olhar cúmplice e diz que começará a andar com os dentes à mostra, assim será visto. eu sorrio.


será que ela gemia? com certeza. elas são pagas para isso.


surpreendi um estupro. me ofereci em troca da criança. o estuprador não quis e continuou a fuder a pequena. senti inveja.


uma prostituta foi encontrada morta num quarto de hotel. morreu engasgada.


em dias de tempestade, brinco de roleta-russa com os raios: subo em cada árvore que vejo e espero.


na falta de lubrificação, ele escarrou na minha buceta. achei nojento, mas trepei mesmo assim. 40 reais são 40 reais.


o bebê não parava de chorar. joguei ele no chão. ele parou.

sexta-feira, 20 de março de 2009

O Corpo Ainda É Escuro


-Microcontos-


A dor é da cama, sem sustentação. O corpo em queda, doença parada dos olhos. O corte da pele do lençol não cicatriza.


Despediu-se sem saber que o afeto poupado lhe faltaria.


Nascemos gêmeos, idênticos. Hoje não somos nem parecidos.


Quando recortei a cara do bebê, cuidadoso, pude ver a engrenagem do seu sorriso que funcionava ainda sem saber da dor.


Fausto não dormiu naquela noite, desconfiado do cachorro que viu tudo.


Na última doença minha tia falou: agora é que não aprendo a pular corda.


Um escritor moreno descreve a sombra sem nem desconfiar do objeto.


Vivian pergunta sem me olhar nos olhos: - Vai demorar muito pra acabar?


A música se hospedava no seu ouvido vazio.




Douglas König de Oliveira

quarta-feira, 18 de março de 2009

Crônicas De Um Velho Que Morreu Lúcido.


-Microcontos-


Voltei e permanecia morna.


Das portas lá de casa a do banheiro é mais necessária.


Era engraçado, mas ao próximo que entrar no elevador só eu sabia o que iria acontecer.


Quando avisei pro meu filho que iria morrer resistiu enquanto pode. Ele nunca me obedecia.


Não paravam de comentar quando o padre engravidou.


As amigas se decepcionaram quando, no seu terceiro casamento, Suzana resolveu ficar com o buquê.


Depois que Dona Dulce morreu na missa mais bancos ficam vazios.


Um pouco enciumada permitiu que Seu Rubens, o “Ratinho”, fosse velado na gafieira.


Enquanto subia a escada do edifício despida sentiu seus seios tão rijos quanto antigamente.


Os amigos se revoltaram quando não fez no braço uma tatuagem de índio, e sim do John Wayne.




escrito por Douglas König de Oliveira

sábado, 14 de março de 2009

a forja.



Novamente os forjadores de palavras se encontram e, a cada encontro, uma surpresa. Assassinato de crianças, vômitos inesperados, as paisagens que passam pelos olhos de uma senhora que acaba de ver seu marido detestável morto. Personagens que ganham vida. A brasa está no ponto da forja e o Tabelionato novamente abre suas portas enquanto as palavras se misturam em pensamento.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Curso de formação de escritores - 3ª edição

A partir de 13 de março inicia-se mais um curso de formação de escritores. A certeza de que muitos forjadores do Tabelionato estarão presentes neste curso e que, além destes, teremos ainda mais escritores faz com que possamos pensar na importância desse espaço. Três anos, três grupos, entre eles os que foram e os que ficaram.

obrigado àqueles que aí estão e aguardamos juntos os próximos forjadores de palavras.
A quem puder participar, favor enviar até as 23:59 de hoje uma pequena biografia e um texto para marcorodrigues@sesc-sc.com.br .

Um abraço.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

La Vie III

a cama molhada o sons tristes a fumaça do cigarro um abraço solitário uma dor nocoração.

La vie II

deitada na cama, chorando sofrendo, as lágrimas molhando a fronha, os lençóis. sem força nem vontade. sem nada. sem nada.

La Vie I

deitada na nossa cama, de costas pra mim, chorando baixinho, sofrendo, pensando nas coisas horríveis que aconteceram, que acontecem, que vivemos. por que? difícil Perdoar.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O fim!


Era o fim, sempre o fim. Cansara-se daquilo há muito, mas não podia evitar. O fim sempre estava ali, logo após tudo, tão óbvio, tão fatal. O fim o devorava, um pouco e sempre todas as vezes que sentia o seu gosto. Isto era o que havia de mais estranho em sua vida, o inevitável fim.
m

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Lançamento do caderno "De víveres e haveres"



Um ano após a forja das palavras, eis que surge para os primeiros tabelionatários o resultado de seus esforços. Segue o convite para o lançamento do caderno "De víveres e haveres", realizado por forjadores de palavras de Tubarão e organizado pelo mestre Dennis Radünz, em manhãs e tardes mornas de novembro e dezembro de 2007.
Aos novos tabelionatários, não se esqueçam que ano que vem serão vocês.

Escritores inéditos lançam livro no SESC

11 escritores tubaronenses deixam de ser anônimos para terem suas obras publicadas, na quarta-feira, dia 17 de dezembro. Eles tiveram seus contos impressos no caderno "De Víveres e Haveres", fruto de uma oficina de escritores realizada pelo SESC anualmente. O lançamento acontece no restaurante do SESC, às 20h.

Para lançar a obra, os novatos autores organizaram um Sarau Poético. Nele, haverá apresentações musicais, performances teatrais e declamação de poemas. A entrada é franca e a participação no Sarau é também aberta ao público. Desse modo, quem se dirigir ao restaurante do SESC na próxima quarta-feira pode, sem nenhum problema, declamar seu poema ou cantar a música que compôs.

"De Víveres e Haveres" foi organizado pelo escritor Dennis Radünz, quem ministrou o curso de escritores. O trabalho durou três fins-de-semana, nos quais os participantes tiveram contato com o universo literário, conhecendo a teoria daquilo que eles deveriam pôr em prática. O resultado agradou aos participantes. "Fiquei muito feliz quando vi o meu conto impresso no livro. Dá a sensação do dever cumprido, a gente sente que valeu a pena todo o trabalho", conta Vivian Sipriano, estudante de Jornalismo, que participou do curso de escritores realizado no ano passado.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O Princípio









não se sabe ao certo se é o princípio ou se é o fim. apenas surge inexplicavelmente em algum lugar um ou mais pontos no escuro.
o efeito desse acontecimento, se pararmos para pensar, é extraordinário. um escuro total é invadido por um ponto branco, ou vermelho ou amarelado... depois outro e outro. estrelas pixeladas no abstrato dessa não-cor. do suposto nada, algumas linhas se desenham e formam o infinito. podemos imaginar as formas, as abstrações desses pixels. podemos imaginar o que o fez existir. uma explosão, uma reação qualquer? algo leve, algo pesado, podemos imaginar até uma tesoura perfurando o preto, uma lona se desfazendo, um plástico derretendo. podemos dizer que atrás do escuro as imagens sempre existiram. nunca nasceram.
na verdade, o evento seria maravilhoso, mas não acompanhamos os eventos diários. a maravilha se repete em cada amanhecer, mas não há tempo. todos os dias o relógio toca e nos levantamos a contragosto. café, cigarro, celular, chaves, ponto. ali passamos nossas oito horas e voltamos pra casa cansados demais para ler um livro ou assistir a um filme. cansados demais para transar ou para se incomodar em saber como os dias nascem e as noites morrem.


In: só se for mais





quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Aurélio botou fogo na árvore
atrás de casa, frutífera
fogo era tempo, o tronco passado
ausência que o traçado consumia
a pele do fruto abrindo, expondo a polpa víscera,
e a membrana cedendo vida, carvão
ruína úmida de planta, brilho extinto de folhas,
de ramo precipício
plana fuligem, ninguém respira o ar da casa
raiz hospedada no trecho, no solo mudo,
sem comunhão
memória de um sol deposto
arde aquilo que era
enquanto queima no pátio,
pendurado na árvore acessa
se despe dos olhos de Pai,
sem alvo, sem ar

Douglas König de Oliveira