sexta-feira, 20 de março de 2009

O Corpo Ainda É Escuro


-Microcontos-


A dor é da cama, sem sustentação. O corpo em queda, doença parada dos olhos. O corte da pele do lençol não cicatriza.


Despediu-se sem saber que o afeto poupado lhe faltaria.


Nascemos gêmeos, idênticos. Hoje não somos nem parecidos.


Quando recortei a cara do bebê, cuidadoso, pude ver a engrenagem do seu sorriso que funcionava ainda sem saber da dor.


Fausto não dormiu naquela noite, desconfiado do cachorro que viu tudo.


Na última doença minha tia falou: agora é que não aprendo a pular corda.


Um escritor moreno descreve a sombra sem nem desconfiar do objeto.


Vivian pergunta sem me olhar nos olhos: - Vai demorar muito pra acabar?


A música se hospedava no seu ouvido vazio.




Douglas König de Oliveira

2 comentários:

Sheyla Fernandes disse...

Gostei muito dos microcontos, Douglas. Resolvi fazer alguns também... hehe.

Um beijo.

Roberto Hobold disse...

Gosto muito desses coisas curtas que dizem muito, mais que uma página cheia de letras ajuntadas inultimente, descrevendo o que não precisa ser descrito. E que a imaginação corra solta.