domingo, 29 de março de 2009

Ofegante, depois de alguns dias observando as águas, ele chega e conta sobre Pai-Feroz. Os tempos difíceis voltaram. Era o momento de se mudar e em movimento todos sentiam-se expostos a um perigo imediato.
A questão foi levada ao pai mestre que declarou não só importante a mudança, como também uma necessidade, um bem para todos.
Não foi a primeira daquelas famílias, daquele povo. Alguns avós e bisavós presenciaram a disciplina devastadora das lágrimas de Tubanharõ. Tempos de fartura, tempos difíceis. A morte vinha galopando pelos campos, enchendo de lágrimas os lares. Depois da mudança, a fome, um novo curso, uma nova vida.
aos homens cabia levar a lenha, as peles, os mais velhos e a comida que pudessem carregar. Às mulheres, as crianças. Aos mais velhos a fogueira e o alimento para o espírito. Às crianças, uma realidade sólida como rocha, áspera como tronco, fria como Pai-Feroz. A marcha de sol-a-sol, as manchas de morte intercalavam-se com flores de luz, luar azul, verde jardim, nascer curumim.
Do alto do morro, um passo antes de perder de vista o trajeto, o povo do Rio sentou-se e esperou não um ou dois dias, mas quarenta luas. Tubanharõ se mostrou e como águia, abriu suas asas. O Sol resplandia no corpo de prata enquanto, violento, desbravava as matas. E ao ver os homens seus filhos na ponta do desfiladeiro, parece que como um sorriso de prata foi dando, abrindo seus rios, cruzando sem medo a imensidão verde-mata que o céu refletido chovia.

Um comentário:

Douglas disse...

Grande Marco!
Passageiro que captura a alma das coisas daqui, para além do seu lugar.Tubarão agradece!

Um abraço