Joana morreu
nossa vizinha
sigo atento
este afeto urbano
de pertencer a mesma quadra
e compor a sala
de velhas cadeiras
os golpes que contam
que enfeitam
num canto agoureiro
coro de corvos
de plenas fraturas
trinados de um rasgo certeiro
retrato de açougue
estampada sorte
em que se enrola os peixes
era freqüente
em nossa casa seu pálido e estreito
revestimento
torcido alicerce
e cascas de cal
represa expressão pela
cicatriz acre, esquerda
órbitas capturadas
paralisia funda, acesa
lábios retesos
barram a saliva azeda
a pele rígida, réptil
vestida de pó
tarde lenta
de impressões famintas
os ossos dos pés
estalam ocos
nos sons das tampas
pelo vidro
gestos adormecidos
forjadas sem fio
as manhãs em que os vizinhos morrem
parecem iguais
seguir o tráfego obtuso
brisas mórbidas de café
conchas violáceas que reportam o mar
tecido rasgado da infância
cães e plumas sem nome, esquecidos
na carne falida dos miolos
Douglas König de Oliveira
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
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2 comentários:
UAU, MUITO BOM HEIM!
"AS MANHÃS EM QUE OS VIZINHOS MORREM
PARECEM IGUAIS"
ME IMPRESSIONEI...
E TENHO MEDO DE ACREDITAR QUE SEJA ASSIM
MESMO SABENDO QUE TENS RAZÃO
E QUE NÃO É APENAS POESIA!
UM ABRAÇO
E BOAS IDÉIAS...
ADORO LER SEUS ESCRITOS...
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