sábado, 16 de agosto de 2008

Ilusão

Que mais poderia fazer? Não se perguntava, sequer pensava na possibilidade de se interrogar sobre o que fazia. Vazia seria a palavra possível para aquilo que lhe ocorria. Corria às compras, numa alucinante tentativa de satisfazer algo, nem sabendo do próprio vazio. Tudo, quase, observava, pegava, mexia, iludia-se. Que prazer era aquele? Deveria se perguntar, mas estava longe de chegar nisso.

Satisfazia-se com as cores, os odores, e escondia seus pavores, tão bem escondidos que ele nem mais desconfiava que existissem. Enchia o carrinho e, súbito, sentia a angústia se aproximando. Era o momento de ir ao caixa, passar as mercadorias todas, esquecer aqueles corredores de ilusões, pagar, e nem se importava com a conta estourada do cartão, ir embora. Era sempre assim.
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2 comentários:

Marco Aurélio disse...

Um dia normal de compras em um mercado ou loja. Exceto que a ilusão vai tão além da compra, pois como disse Arnaldo Antunes, o dinheiro é um pedaço de papel.

SheylaBit disse...

Adorei, acredito nesta necessidade do ser humano de camuflar seus sentimentos. Comendo toneladas de chocolate, comprando a ultima coleção de sapatos (pura necessidade), tomando a famosa cervejinha, dependendo da forma como estamos nos damos ao luxo, de fazer algo pra melhorar nosso dia sem nos perguntarmos o porque. Quem afinal está no comando? Não precisamos ser escravos de nos mesmos.